segunda-feira, 1 de abril de 2013

Amores e mentiras - uma antropologia informal

Foi num impulso que mudei o meu status de relacionamento no Facebook para "relacionamento sério" em plena manhã de segunda-feira. Bastaram alguns minutos para os amigos curtirem a mudança. A amiga que esteve comigo durante o fim de semana veio conversar comigo sem entender nada: "como assim, namorando". Esta foi minha brincadeira de 1o de abril. Por um instante, percebendo a sinceridade das "curtidas" e dos votos de felicidades, me senti culpada por colocá-los na mentira.
Tornou-se uma experiência antropológica virtual, daquelas em que o pesquisador se mistura aos pesquisados, verr a reação das pessoas diante do que, em última instância, é o amor e toda a gama de sensações que ele nos desperta. É reação em cadeia: eu digo que estou amando, isso acende em mais alguém a lembrança de como é bom amar e ser amado e essa pessoa também é tomada por um sentimento de felicidade. É o ser humano mostrando seu melhor lado, se alegrando com a alegria alheia.
O paradoxo deste experimento virtual é que essa alegria, de ser amada, vem acompanhada pela tristeza de saber que tudo não passa de uma brincadeira, exceto pela dedicação sincera dos amigos. É ter que admitir que, apesar de ter amizades excelentes, há dias em que a solidão bate.
A escolha da mentira sobre o namoro não foi tão casual (olha a subjetividade entrando neste estudo informal!). Já são vários anos sem o tal "relacionamento sério" (aqui definido como algo que dure mais que um mês e que inclua apresentação do ser amado à família e amigos). Considerando que escrevo nesse meu estilo pesquisadora maluca, vocês devem estar tentados a perguntar "e quais são as causas, as variáveis?". A resposta é simples: não sei.  Se soubesse, estaria rica! Fórmula do Amor Verdadeiro, Elixir do Afeto Correspondido, Pílulas da Paixão Sem Fim... tem mercado pra tudo isso.
Fiz muita observação participante com o sexo oposto nas mais variadas situações, mas parece que meus dados formam gráficos com retas que não se cruzam, ou no máximo, se tangenciam em um único ponto. No início, corri muito atrás do meu objeto de pesquisa, o amor, até perceber que ele aparece quando quer (algo como o monstro do Lago Ness, quem sabe?). Eu, pesquisadora nada ortodoxa, continuo acreditando que ele existe, mesmo sem ter conseguido a prova científica disso.
O máximo que consegui testar foi a hipótese do Cântico dos Cânticos (BÍBLIA, ano alguma coisa AC - Antes de Cristo): "Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria". São anos de estudo, muita aula de inglês, espanhol, francês, russo... e continuo achando que falta alguma coisa. Eu e meio mundo, pois até quem nunca teve um grande amor, gostaria de viver um.
Enquanto eu não encontro o tal amor verdadeiro (ou ele me encontra), vou aproveitando as suas manifestações menos carnais. Amigos e família amam a gente de um jeito diferente, que se não tem o arrebatamento da paixão, vem com a garantia de durabilidade que o outro nem sempre tem. Sigo o caminho observando e participando dos amores de mentira, aqueles em que a gente ama, mas não é amado, ou é amado por quem não ama. Ás vezes ninguém ama ninguém, mas pesquisador e pesquisado fazem de conta que sim (o que poderíamos classificar como amor placebo - um remédio cujo efeito não passa de auto-engano, mas que traz algum conforto). Enfim, o amor é um mistério sem explicação.

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