segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Qualidade de vida, questão de política

Para quem trabalha 12 horas por dia, reduzir a carga horária já tem sabor de férias, que eu apelidei de demi vacances (traduzindo: semi-férias). Passei dez dias nesse ritmo e o objetivo era resolver coisas pendentes e fazer mais aulas de ginástica. Consegui cumprir em parte a minha meta (alguns contratempos com minha saúde impediram ir adiante).
O mais bacana é ter tempo para refletir sobre a rotina diária e perceber como coisas relativamente simples podem fazer uma grande diferença. Tive essa sensação no dia em que fui pra academia no horário do almoço, tomei banho, comi alguma coisa e em 15 minutos fiz o trajeto de casa para o trabalho, de ônibus. Talvez pareça bobo, mas num período de menos de duas horas fiz três coisas capazes de melhorar minha vida e talvez a de quem convive comigo: me exercitei, comi em casa (ou seja, tive maior controle sobre a qualidade da minha comida) e me desloquei pela cidade sem me estressar.
O que isso tem a ver com política? Tudo. Fiquei pensando no ganho para a saúde pública se mais pessoas tivessem a chance de ter uma rotina parecida com esta que eu descrevi. Nas capitais, muitos passam duas, três horas dentro de ônibus apertados ou no próprio carro, presos em engarrafamentos, na ilusão de que isto seria menos irritante que o transporte coletivo. Resultado: tempo perdido (que poderia ser usado para o estudo, o lazer, a família ou pra fazer exercícios) e muito stress.
Stress a mais e exercício de menos significam saúde a menos. E a alimentação então? Gente irritada e sem tempo também termina se alimentando mal. É mais fácil (e as vezes mais barato) pegar um salgado na padaria do que sentar e comer com calma. Tudo isso é fator de risco para boa parte das doenças que o poder público tenta combater, como diabetes, pressão alta e obesidade, que geram mais uma leva de problemas como agravamento de doenças respiratórias, varizes e AVC.
Se as cidades fossem melhor planejadas, talvez menos gente tivesse que enfrentar essa rotina louca do deslocamento. Talvez mais gente tivesse um parque perto de casa ou do trabalho pra caminhar no fim da tarde. Talvez mais pessoas pudessem morar perto do trabalho. E os governos gastariam bem menos consertando os estragos de uma vida irritante.
Enquanto isso não acontece, respirem fundo. Muita calma pra enfrentar a cidade grande.

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